Vermelho
- Ricardo Henrique dos Reis
- 30 de out. de 2016
- 2 min de leitura

O filho tem que matar o pai! Não é assim? Logo, Bruno tem que matar Antônio. Isso seria digno de uma capa de jornal sensacionalista. Sobre isso a maioria de nós falaria uma semana, ininterruptamente. Talvez o assunto se estendesse durante todo o mês e, certamente, seria retomado em uma retrospectiva anual, como se a tragédia se repetisse a todo instante. O ser humano adora tragédias! Mas tragédia mesmo é não encontrar um teatro lotado para um espetáculo tão primoroso.
Não culpo a mídia por isso e sim a nossa veia tupiniquim, que tem essa avassaladora sensibilidade para comover-se e indignar-se e surpreender-se e emocionar-se com tragédias reais enquanto o teatro, que oferece esses mesmos sentimentos, sofre com a carência de público. Esses sentimentos (volto a dizer) são a matéria-prima do teatro, que o ator busca, relutantemente. Um ser humano evoluído aprende com a experiência do outro (através da cultura e da erudição) mas nós ainda insistimos em sofrer com a vida real. Sem usar a arte para saciar nossos instintos mais primitivos.
No palco, pai e filho, sem nenhum indício trágico, dividem o mesmo espaço em cena. Eles se amam. É fácil perceber. Matar o pai na arte significa, simplesmente, que o novo irá superar o antigo, que arte irá se renovar para se religar ao público.
Nos assentos ouvi sussurrarem: “Ele não tem a mesma intensidade que o pai”. Alguém, talvez eu, poderia retrucar: um filho possui a mesma experiência que um pai? um aluno possui a mesma visão que o seu mestre? É claro que não! E embora existam exceções não estamos a falar delas, estamos analisando conceitos dramáticos com os quais os atores fizeram uma brilhante apropriação ao se propor contarem a vida de Mark Rothko. Jorge Takla, o diretor, é incapaz de realizar um trabalho mal feito e por isso tudo funciona como um relógio. Perfeito.
O texto também é uma pintura na tela, cheio de referências a grandes nomes das artes plásticas e da filosofia, o autor, John Logan, foi premiado na Broadway com esse texto e já assinou roteiros de grandes Blockbusters, a exemplo de: Gladiador, O aviador, Hugo Cabret, entre outros.
Um questionamento muito simples impulsiona o drama “O que você vê?”, é a pergunta que Mark Rothko faz ao seu novo assistente e, a partir daí, iniciamos uma verdadeira incursão sobre tudo que vemos ou que deixamos de ver. A peça pulsa interna e externamente com muita veemência. É um delírio, uma descarga emocional, é como se pintassem o nosso céu de vermelho.
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